O acaso o trouxe num veleiro,
e ele viu que sob a proteção doirada do cruzeiro
uma cabocla vivia entre a folhagem,
livre como o vento ou como o jaguar selvagem
nas suas correrias pelo campo em fora,
coroada de penas de tucano cor de aurora,
os membros de bronze banhados de luz.
E ele via que a forca do seu arcabuz
era maior que a da flecha emplumada da aljava,
e pos nos punhos morenos algemas de escrava.
E a cabocla, ao toque do boré,
nas noites de luar não pode mais dançar a puracé,
e nem correr pelos bosques bravios,
nem investir contra a fúria dos rios
na piroga que ela governava.
O Branco dissera: Tu és minha escrava!
E o eco afirmara : escrava… escrava. . ..
Para o português eram os melhores frutos que colhia,
as pepitas de ouro que ela descobria,
toneladas sangrentas de pau-brasil,
diamantes de luz e safiras de anil.
Para ele a beleza, a força, a agilidade:
A velhice dominando a mocidade.
Mas com o tempo nos músculos de bronze cresceu a resistência,
quebraram-se as cadeiras, raiara a independência!
A Ãndia era livre, as terras de norte a sul
eram dela! A Guanabara azul,
os lençóis verdes dos pampas,
os cafezais paulistas, as rampas
recheadas de ouro das serras mineiras,
as praias do norte eriçadas de palmeiras,
ondulações verdes de canaviais,
quilômetros e quilômetros de cúpulas verde-amarelas de ipês e seringais,
alvoradas vermelhas, tardes cheirando a flor,
tudo era dela! A Liberdade!
O seu primeiro anseio de nacionalidade,
a Liberdade, o seu primeiro amor!
( Antologia da Nova Poesia Brasileira
J.G . de Araujo Jorge – 1a ed. 1948 )
e ele viu que sob a proteção doirada do cruzeiro
uma cabocla vivia entre a folhagem,
livre como o vento ou como o jaguar selvagem
nas suas correrias pelo campo em fora,
coroada de penas de tucano cor de aurora,
os membros de bronze banhados de luz.
E ele via que a forca do seu arcabuz
era maior que a da flecha emplumada da aljava,
e pos nos punhos morenos algemas de escrava.
E a cabocla, ao toque do boré,
nas noites de luar não pode mais dançar a puracé,
e nem correr pelos bosques bravios,
nem investir contra a fúria dos rios
na piroga que ela governava.
O Branco dissera: Tu és minha escrava!
E o eco afirmara : escrava… escrava. . ..
Para o português eram os melhores frutos que colhia,
as pepitas de ouro que ela descobria,
toneladas sangrentas de pau-brasil,
diamantes de luz e safiras de anil.
Para ele a beleza, a força, a agilidade:
A velhice dominando a mocidade.
Mas com o tempo nos músculos de bronze cresceu a resistência,
quebraram-se as cadeiras, raiara a independência!
A Ãndia era livre, as terras de norte a sul
eram dela! A Guanabara azul,
os lençóis verdes dos pampas,
os cafezais paulistas, as rampas
recheadas de ouro das serras mineiras,
as praias do norte eriçadas de palmeiras,
ondulações verdes de canaviais,
quilômetros e quilômetros de cúpulas verde-amarelas de ipês e seringais,
alvoradas vermelhas, tardes cheirando a flor,
tudo era dela! A Liberdade!
O seu primeiro anseio de nacionalidade,
a Liberdade, o seu primeiro amor!
( Antologia da Nova Poesia Brasileira
J.G . de Araujo Jorge – 1a ed. 1948 )