Os problemas enfrentados pelas comunidades localizadas em áreas suscetíveis a estiagens, secas, deslizamentos e inundações são frequentes no cenário brasileiro. Esse quadro agrava-se em decorrência das ações do homem, em especial, a ocupação desordenada do solo que contribui para a degradação ambiental e contribui para a ocorrência de desastres. Esta situação resulta também da escassez de políticas públicas intersetoriais que fortaleçam ações conjuntas para a minimização dos efeitos danosos ao meio ambiente e contribuam para a organização social nos assentamentos humanos.
Esse cenário tem trazido uma grande preocupação aos órgãos de defesa civil, considerando a urgência em estabelecer novos paradigmas no que concerne as mudanças de comportamentos, atitudes e práticas no contexto local. Dessa forma, atuar incentivando práticas socioeducativas, principalmente, junto a crianças, adolescentes e jovens, representa a possibilidade de criar espaços democráticos capazes de estimular a participação de todos que fazem parte da comunidade. Nesse sentido, é possível avançar no intuito de formar cidadãos comprometidos com a preservação ambiental e com a redução de desastres.
Para estimular atitudes adequadas com relação à redução de riscos de desastres é fundamental desenvolver ações socioeducativas e formar cidadãos comprometidos que promovam mudanças graduais e exitosas no contexto socioambiental em que estão inseridos.
Na tentativa de mobilizar crianças, adolescentes e jovens para o compromisso coletivo com sua comunidade, a Secretaria Nacional de Defesa Civil – SEDEC tem estimulado a criação dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil Jovem - NUDEC JOVEM que tem como princípio o envolvimento desse segmento da comunidade para atuar na ação conjunta visando à redução dos desastres no âmbito local.
Este texto visa introduzir brevemente o tema do protagonismo juvenil para a redução dos riscos de desastres junto às escolas do semiárido. Ele descreve alguns elementos de uma experiência desenvolvida nos municípios da Região Metropolitana do Recife por meio de uma parceria que envolveu órgãos governamentais: Secretaria Nacional de Defesa Civil – SEDEC, Agência CONDEPE/ FIDEM – Governo do Estado de Pernambuco, municípios da Região Metropolitana do Recife e a ONG Save The Children.
O propósito é estimular as escolas para que mobilizem e organizem os alunos, professores e demais membros da comunidade escolar por meio da reflexão e do despertar da consciência e do papel de cada um para a convivência harmoniosa com o meio ambiente onde vive, contribuindo assim para a redução de riscos de desastres.
As crianças, adolescentes e os jovens são mobilizados e se articulam para atuar em colaboração com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil- COMDEC1 , o Núcleo Comunitário de Defesa Civil - NUDEC2 e a escola, a quem cabe apoiá-los no desenvolvimento de ações socioeducativas e preventivas de riscos de desastres. A partir de atividades didáticas, crianças, adolescentes e jovens passam a observar, analisar e interagir no seu espaço comunitário, contribuindo para a mitigação ou solução dos problemas identificados no mapa de risco socioambiental da comunidade.
A participação dos estudantes, professores e demais membros da comunidade representa um elo entre a escola e comunidade, possuindo um importante potencial que deve ser valorizado na perspectiva de melhoria da condição de vida das famílias, a partir de práticas do cotidiano voltadas à preservação do meio ambiente, à prevenção e redução de riscos socioambientais.
A mudança de atitudes para uma relação de mais respeito com o meio ambiente é importante e merece ser aprofundada a partir de iniciativas educativas, envolvendo meninos e meninas para uma reflexão sobre seus comportamentos e reconstrução de atitudes que possibilitem a sustentabilidade do nosso planeta.
O NUDEC Jovem traz o diferencial social uma vez que está dentro da escola, contribuindo para atuar de uma forma transversal, considerando os conhecimentos, informações, conteúdos e saberes desenvolvidos no ambiente de ensino, propiciando a interface com a vivência comunitária, adquirida pelas crianças, adolescentes e jovens no seu cotidiano.
A partir de temas transversais trabalhados na escola, entende-se que é possível atuar de forma contextualizada para a redução de riscos de desastres nas áreas suscetíveis a estiagens, secas, deslizamentos e inundações. Por meio das relações com a escola que está na comunidade, essa mobilização potencializará a participação efetiva dos atores sociais para a formação de novas posturas frente aos riscos existentes na paisagem do lugar.
Estimular a participação juvenil significa promover atividades organizadas, favoráveis à expressão das suas potencialidades e vivências, e nessa perspectiva o trabalho envolvendo a escola aumenta as possibilidades de manutenção e continuidade das ações preventivas.
Por meio de trabalhos realizados em grupo, as crianças, adolescentes e jovens refletem e analisam o meio ambiente local, interagindo para construção de propostas contemplativas à realidade em que vivem, considerando o olhar sobre esta; compreendem que o processo de degradação ambiental é agravado pelos maus hábitos e atitudes humanas inadequadas.
A partir dessas ações, são constatadas alterações significativas na relação com a comunidade, sobretudo, quanto às mudanças de comportamento, principalmente àquelas que provocam riscos de desastres que afetam diretamente suas vidas.
Tendo como referência experiências como a desenvolvida na Região Metropolitana do Recife – Pernambuco, sugere-se que as escolas do semiarido comecem a discutir a possibilidade de incluir no seu plano anual a mobilização para a redução dos riscos de desastres. Um bom início é procurar a COMDEC do seu município para orientar possíveis ações na comunidade onde a escola está localizada e que incluam a participação efetiva de crianças e adolescentes.
Texto elaborado por Rejane Lucena, mestra em Gestão de Políticas Públicas, Coordenadora de Planejamento e Assistência da Defesa Civil do Jaboatão dos Guararapes (PE) e Damares Lopes de Albuquerque, Assistente Social, Especialista em Gestão de Políticas Públicas. Colaboração Francisca Maria Oliveira Andrade, médica pediatra, Mestra em Saúde Pública e Especialista em Programas do UNICEF no Brasil e Daniela Lopes, Diretora do Departamento de mitigação de desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil - SEDEC.
Esse texto foi especialmente preparado para os municípios do semiarido que participam do Selo UNICEF, com acompanhamento da equipe do UNICEF no Brasil.